sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Que é História - Edward Hallet Carr



Que é História - Edward Hallet Carr

Prefácio à Segunda Edição

Em 1960, quando completei o primeiro rascunho de minhas seis conferências, Que é história?, o mundo ocidental ainda estava abalado pelos choques de duas guerras mundiais e duas grandes revoluções, a russa e a chinesa. A era vitoriana de ingênua autocon¬fiança e crença automática no progresso ficara decididamente para trás. O mundo era um lugar conturbado e até mesmo ameaçador. Contudo, começaram a se multiplicar os indícios de que estávamos começando a sair de alguns de nossos problemas. A crise econômica mundial, amplamente prognosticada como uma seqüela da guerra, não aconteceu. Nós calmamente dissolvemos o Império Britânico, quase sem perceber. A crise da Hungria e do Suez fora superada, ou esquecida. A desestalinização da União Soviética e a desmacarthização nos Estados Unidos progrediam de forma salutar. A Alemanha e o Japão se recuperaram rapidamente da ruína total de 1945 e reali¬zavam espetaculares avanços econômicos. A França, sob De Gaulle, renovava suas forças. Nos Estados Unidos, terminava a praga Eisenhower; a era de esperança Kennedy estava prestes a se iniciar. Áreas hostis - África do Sul, Irlanda, Vietnã - ainda podiam ser mantidas sob controle. Os intercâmbios comerciais se expandiam por todo o mundo.
Estas condições deram, de qualquer forma, uma justificativa superficial para a expressão de otimismo e crença no futuro com que terminei minhas conferências em 1961. Os vinte anos seguintes frus¬traram estas esperanças e este contentamento. A guerra fria recome¬çou com intensidade redobrada, trazendo consigo a ameaça da destruição nuclear. A adiada crise econômica começou impetuosamen¬te, devastando os países industrializados e espalhando o câncer do desemprego através da sociedade ocidental. Hoje, raro é o país que está livre da hostilidade da violência e do terrorismo. A revolta dos países produtores de petróleo do Oriente Médio provocou uma im¬portante mudança de poder, em prejuízo das nações industrializadas do Ocidente. O “Terceiro Mundo” transformou-se de um elemento passivo em um fator concreto e perturbador nos assuntos mundiais. Nestas condições, qualquer expressão de otimismo pode parecer absurda. Os profetas da desgraça têm tudo a seu favor. O quadro da destruição iminente, laboriosamente desenhado por escritores e jor¬nalistas sensacionalistas e transmitido através dos meios de comunicação de massa, penetrou no vocabulário do discurso cotidiano. Nunca a antiga previsão popular do fim do mundo pareceu tão apropriada.


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