segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Cidadania no Brasil: o longo caminho - José Murilo de Carvalho



Cidadania no Brasil: o longo caminho - José Murilo de Carvalho

Logo na introdução, o historiador demonstra que a cidadania é um conceito de difícil entendimento, muitas vezes deturpado e que, mesmo na Inglaterra, só foi claramente definido em meados do século XX pelo sociólogo T. A. Marshall. No Brasil, seguindo as dificuldades do entendimento das diferenças entre os termos ingleses liberty e freedom, de resto presente em todas línguas e culturas latinas, a cidadania consistia na contradição das liberdades civis esvaziadas de ordem jurídico-política que as garantisse de fato. Daí a libertação de escravos que, uma vez livres, adquiriam escravos.

Com o golpe da República de coronéis, pergunta quem estava menos preparado para a democracia, o povo ou o governo e as elites. Da exigência de proibição do tráfico de escravos, em 1827, feita pela Inglaterra como condição para reconhecer a independência do Brasil, foi promulgada uma lei em 1831 que não teve nenhum efeito prático. Daí um de nossos primeiros pastiches políticos: a lei para inglês ver. O Brasil foi o último país cristão a extinguir a escravidão em 1888. Se a cidadania é exercício de direitos, estes só são efetivos de fato para além do conhecimento da lei, pela exigência de sua aplicação e conseqüente assunção de deveres políticos. E esta assunção começa pelas próprias elites governantes quando na tradição política continuam a se referir ao povo como escória, choldra, patuléia e gentalha.

Antes mesmo do golpe da república positivista, que cantava a Marselhesa no lugar do hino nacional, a própria Inconfidência Mineira se referia à nação brasileira como a Pátria Mineira, pertencente ao recém declarado independente território das Américas (norte-americanas). Já na República, o equívoco do pastiche político se explicita de vez pela supressão do amor do tríptico original positivista da ordem e progresso, até por seu desentendimento enquanto justiça. Isto se explica pela própria doutrina da Religião da Humanidade comteana que se afastava da concepção de confrontos de classe socialistas e pregava a fraternidade entre patrões e trabalhadores, despolitizando, portanto, o conceito de liberdade tão duramente conquistado pela tradição liberal saxã.

É nesta República de pastiche que se coroará, enfim, a política do privilégio em detrimento dos direitos, com todo o entulho da legislação trabalhista anarco-sindicalista daí decorrente. E para atenuar o conflito natural entre os interesses dos patrões e dos trabalhadores, surge a figura mais típica da tradição demagógica brasileira: o pelego, termo que, em “gauchês”, nada mais era do que uma manta de lã de carneiro colocada para atenuar o atrito natural entre a sela e o lombo da montaria. Do diagnóstico do populismo, clientelismo, patrimonialismo e demagogia dos maus costumes políticos nacionais, José Murilo de Carvalho aponta para o esforço de construção da consciência de liberdades civis e políticas da sociedade a partir da constituição de 1988, e que antecedem deliberadamente no artigo 5º os tão alegados direitos sociais “para todos” do artigo 6º.

Download do livro: http://www.4shared.com/file/167186330/377aa978/Jos_Murilo_Carvalho_-_CIDADANI.html

Batismo de Sangue: Guerrilha e Morte de Carlos Marighella - Frei Betto



Batismo de Sangue: Guerrilha e Morte de Carlos Marighella - Frei Betto

Importante relato sobre os horrores da ditadura militar, Batismo de sangue, escrito por Frei Betto, o autor deste documento histórico, compartilha suas descobertas recentes sobre as circunstâncias da morte de Carlos Marighella, líder da Ação Libertadora Nacional (ALN) assassinado em 1969. Fica ainda mais forte a tese de que aquele crime fora planejado de modo a não apenas eliminar o maior inimigo do regime militar, mas também jogar a esquerda contra os frades dominicanos, enfraquecendo a oposição à ditadura. Do dia para a noite, os religiosos passaram de colaboradores da guerrilha a traidores, graças a uma farsa muito bem tecida pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops). É o que diz Frei Betto nesta que ele atesta ser a versão definitiva de sua obra, vencedora do Prêmio Jabuti de melhor livro de memórias de 1982.

Um dos eixos de Batismo de sangue é a história de como os frades da Ordem dos Dominicanos davam apoio logístico à ALN. Numa época em que marxismo era também sinônimo de ateísmo, a população não poderia sequer sonhar com a hipótese de que os inimigos do regime encontravam apoio naqueles insuspeitos religiosos católicos. Pois os frades escondiam guerrilheiros, facilitavam sua fuga para fora do país, cuidavam dos feridos, guardavam suas armas e material considerado subversivo, e ainda faziam o levantamento de potenciais áreas para a guerrilha rural. Como conciliar fé cristã com ação política revolucionária? Esta é uma das questões que Frei Betto elucida neste livro.

Frei Ivo e Frei Fernando, frades que colaboravam com a ALN, foram presos, torturados, demonizados como terroristas e, por fim, usados pelo Deops para fazer com que toda a sociedade se voltasse contra os dominicanos – enquanto a direita e a população ficavam estarrecidas com a participação dos religiosos na luta contra a ditadura.

Em 2007, Batismo de sangue chegou aos cinemas num filme homônimo dirigido por Helvécio Ratton, tendo o ator Daniel de Oliveira no papel de Frei Betto.

Download do livro: http://www.4shared.com/file/167185501/7d681971/Frei_Betto_-_Batismo_de_Sangue.html

I Congresso Internacional e III Seminário Nacional De Desenvolvimento Regional

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